Cinco Sabedorias
Acreditamos que as atividades da escola, incluindo os conteúdos e as habilidades, precisam estar ancoradas em uma visão mais profunda de mundo e de sujeito. Na Escola Caminho do Meio, a base da visão são as chamadas Cinco Sabedorias do Budismo Tibetano, como cinco faces da liberdade e da compaixão fundamentais da nossa mente. Elas se estruturam como os cinco eixos pedagógicos da escola, que também definem o ritmo escolar, estruturam os projetos e são oferecidas regularmente nas formações para a equipe e para as famílias.
Elas são as seguintes:
Sabedoria do Acolhimento
Educação por Inteiro
Essa é a sabedoria que enxerga cada ser como o centro do seu próprio mundo e seu próprio contexto, e suas experiências se manifestando como espelho de sua própria mente. Na pedagogia da Escola, isso se traduz como uma atenção à criança inteira, em todas as suas dimensões: corpo, emoções, percepções, entendimentos e paisagens mentais. Procuramos acolher as crianças em seus próprios mundos e ajudá-las a desenvolver a capacidade de acolher os outros ao seu redor.
Sabedoria da Igualdade
Diversidade e Vida em Rede
Essa é a sabedoria que reconhece a igualdade fundamental entre os seres, o que gera um interesse genuíno pelos outros, pelas suas qualidades e pela sua felicidade. Na pedagogia da Escola, isso se traduz como uma valorização de todas as formas de vida, e uma celebração da diversidade como riqueza. Procuramos irrigar a generosidade e ajudar cada uma a se alegrar com as alegrias das demais.
Sabedoria Investigativa
Aprendizado Contextualizado
Essa é a sabedoria que investiga e compreende cada elemento do mundo como um nó que tece as realidades em que habitamos. Na pedagogia da Escola, isso se traduz como o entendimento de que a criança só aprende aquilo que a interessa e que faz sentido no seu próprio mundo. Procuramos acender a faísca do olhar que se debruça sobre o mundo e se interessa em compreendê-lo e transformá-lo.
Sabedoria da Causalidade
Ambiente Vivo
Essa é a sabedoria que entende as complexas relações de causas e consequências e assim nos fornece a base para uma ação adequada no mundo. Na pedagogia da Escola, isso se traduz como a valorização da interdependência que liga cada criança à sua família, sua cidade, seu país, o mundo humano e a rede de sistemas que sustenta a vida na Terra. Procuramos dissolver as ações que geram confusão e estimular as ações que favorecem a vida, a paz, a compaixão e a sabedoria.
Sabedoria da Transcendência
Educação a partir do Mundo Interno
Essa é a sabedoria que se assenta na dimensão livre e criativa de cada ser, entendendo que sempre somos muito mais do que aquilo que manifestamos. Na pedagogia da Escola, isso se traduz como uma educação que ajude cada criança a reconhecer seu próprio mundo interno, seus repertórios, visões e compreensões. Procuramos ampliar as fronteiras do olhar, estimular a capacidade de criar e lembrar cada criança de que sua natureza mais profunda é como a amplidão do próprio espaço.
Educar por Inteiro
Na Escola Caminho do Meio, entendemos o aprendizado como algo que inclui, mas vai muito além, dos aspectos cognitivos da mente das crianças. De fato, lembramos o tempo todo de que as pessoas são compostas também de corpo, de emoções, de paisagens mentais e de espaço.
Na linguagem da escola, enxergamos e trabalhamos com os sujeitos em cinco dimensões:
O corpo é o que nos dá forma para nos manifestarmos no mundo. Ele tem inteligências próprias e precisa constantemente de nutrição e expressão, movimento e repouso.
A energia é o vento e a vitalidade do nosso corpo, é aquilo que nos conduz, que se manifesta através de sensações, emoções, calor, fôlego e ânimo.
A mente abarca o conjunto de pensamentos, juízos e compreensões, nossas habilidades cognitivas e metacognitivas, mas também abarca o espaço onde os pensamentos surgem, circulam e cessam.
As paisagens são os panos de fundo do nosso mundo interno: nossos valores, crenças, cultura, repertório de experiências. O lugar onde nossa mente está modulam nossos pensamentos, disposições e ações.
O céu ou espaço é a dimensão livre, aberta e criativa dentro de nós, de onde surgem todas as manifestações. Os pássaros, nuvens e luzes passam mas o céu permanece intacto, aberto e receptivo.
Ritmo
O processo de aprendizado e de vivência acontece no tempo, e para fazer jus ao tempo, ele se estabelece em um ritmo. O ritmo na Escola é organizado de pelo menos duas formas.
Em um sentido mais fundamental, há a alternância contínua entre os polos de expansão e contração. O dia e a noite, o verão e o inverno, abrir e fechar, chegar e partir. O dia na Escola começa com a expansão da chegada, seguida pela contração da roda inicial, que se aprofunda no sono dos menores e nos estudos e pesquisa dos maiores; depois a expansão do brincar, do lanche e dos movimentos do corpo; depois a contração leve do descanso, da contação de histórias e da roda final, preparando para a contração da noite.
Além disso, o ano, o bimestre, a semana e o dia são harmonizados em cinco movimentos: acolhimento, oferecimento, investigação, ação e dissolução. Assim, as cinco sabedorias também se distribuem no tempo, organizando o compasso da escola. No ritmo anual, por exemplo, os cinco bimestres expressam as cinco sabedorias, cinco estações, cinco elementos naturais e cinco eixos temáticos.
Aprender as habilidades sem perder o sonho
As habilidades e as linguagens são trabalhadas na escola de maneira contextualizada, a partir do interesse, do desenvolvimento de autonomia sobre si e do cultivo das relações. A partir dessa base ampla, podemos trabalhar os elementos mais importantes para cada fase de desenvolvimento.
Para as crianças pequenas, o instrumento de aprendizado principal é o brincar. É através das brincadeiras e da imitação, distribuídas em um ritmo favorável, que acontecem os desenvolvimentos sensoriais, motores e sociais.
Para as crianças maiores, o brincar vai ganhando a forma de projetos transdisciplinares, conduzindo a mente das crianças através de aprendizados significativos. Os cinco bimestres constituem cinco eixos temáticos, costurados com a BNCC, com o desenvolvimento das várias linguagens (verbais, matemáticas, musicais, plásticas, corporais) e com os conhecimentos sobre o mundo, as sociedades e as culturas.
Em todas as idades, o aprendizado é visto e cultivado como arte. Isso se manifesta em ao menos três aspectos: irrigamos o cotidiano de beleza e de referências estéticas; diversificamos o repertório de possibilidades de expressão e de criação; estabelecemos um estado de atenção e presença em cada uma das atividades.
Ensinar pelas costas
As crianças observam o que os adultos fazem e como eles fazem. Ensinamos mesmo quando não estamos vendo, e boa parte do aprendizado das crianças acontece pelas nossas costas. Assim, a educação vai muito além da instrução explícita.
Assim, as educadoras palmilham o ambiente escolar de paisagens externas favoráveis (o espaço da sala de aula, o bosque, as cores e sons etc) e de atividades significativas (preparo dos alimentos, cuidado com a sala, cultivo do jardim etc). Assim, desde a Educação Infantil, as crianças se engajam naturalmente na alimentação, na limpeza, nos cuidados coletivos.
Além disso, a energia que as educadoras manifestam, sua maneira de lidar com conflitos, sua própria curiosidade diante dos temas, seu cuidado com o ambiente – tudo isso é imitado, modula a energia das crianças e as inspira.
Sobretudo, é importante lembrar que oferecemos apenas o que temos e o que somos. Assim, o compromisso com o ensinar pelas costas é também um compromisso de cada educador com seu próprio autodesenvolvimento e com a formação contínua. Assim, além das práticas pessoais de auto-cultivo e de contemplação das sabedorias, a rotina da equipe inclui acompanhamento pedagógico, tutoria de prática pessoal e formações bimestrais.